Programa de índio

O clamor popular pediu, os jornalistas suplicaram, e Rodrigo Caio atendeu. Finalmente um jogador brasileiro assumiu a culpa de uma jogada para o juiz. Reconheceu que foi um fogo amigo oriundo de sua chuteira que quase arrancou a perna de Renan Ribeiro (pois foi assim que imaginei – ou não -, ao assistir a reação shakesperiana do guarda-redes), inocentando assim o antes culpado e agraciado por uma tarjeta amarela, Jô, o nômade.

O árbitro, então, revogou o seu ato discricionário da aplicação de advertência, o que arrancou aplausos de Jô, o reserva de Fred.

Gostei da ação de Rodrigo Caio. Fez aquilo o que ensinamos aos nossos filhos. Assuma seus atos, não minta, não seja um hipócrita, respeite os outros, não os passe para trás. Tudo aquilo que o futebol não faz. Dentro e fora das 4 linhas.

Este tipo de ação é corriqueira fora da América Latina. Temos vários exemplos, mas por estas bandas é artigo raro.

Mas a autodelação não foi premiada. Pelo contrário, arrancou críticas de dentro do próprio vestiário, sobretudo da chefia imediata e de Maicon, o seu parceiro de estripulias dentro da grande área tricolor.

Maicon chegou a falar que preferiria ver a mãe do adversário chorando do que a sua, para justificar a sua crítica ao companheiro.

Ele ganha 250 mil por mês e apresenta um futebol bem mediano. Para não falar medíocre. Sua mãe vai chorar por causa de uma semi-final perdida? Maicon é natural de Barretos-SP, local onde a renda per capita  da população beira os 1.000 reais (dados de 2010). Sua mãe não vai chorar por isso. Garanto-lhe. Você já é um vencedor na vida.

Mas, beleza. Não quero execrá-lo por uma besteira regurgitada. Com certeza é um discurso pronto proferido por cartolas e empresários.

Cartolas. Esses caras ainda vão acabar com o futebol. Olha só o que fizeram com o campeonato carioca. O Vasco vence a Taça Rio e fica de fora da final. E o pior, tem torcedor de outros times cariocas que vêm graça nisso. É a comemoração da mediocridade!! Eu comemoro porque o meu rival ficou de fora da final, mesmo merecendo. Na real, está todo mundo no mesmo barco à deriva, fazendo festa quando alguém se engasga com água salgada misturada a urina de rato.

Calendário desprezível, onde clubes grandes gastam quatro meses em torneios que servem apenas para satisfazer os vassalos dos presidentes da federação e para iludir os torcedores para a Série A. Time grande tem que jogar contra time grande. Ponto. Se eu jogo muito com pequeno, a tendência é eu virar pequeno também.

Isso sem falar na hipocrisia que impera nas reclamações contra a arbitragem. Se eu acho que me prejudicou, boto um ovo. Se me favoreceu, o silêncio impera.

Falência da moral, falência de organização, falência de qualidade. Só não parei de acompanhar esse esporte porque a paixão ainda existe. Mas já foi muito maior. Eu estou sendo convencido que isto realmente é uma grande perda de tempo.

About Hugo De Marco

Hugo De Marco tem 34 anos mas parecer ter 28. Além de humilde e impaciente, é servidor público de profissão, historiador por graduação e são-paulino de coração. Ama a sua noiva e seus dois filhos (um ainda no forno). Além disso, também gosta de café, semear ironias, metáforas e, claro, a discórdia. Sempre teve as suas piores notas em Redação (por volta de 9,0). Apesar disso, com o tempo começou a estabelecer uma relação de amor com a escrita, chegando até ao ridículo de se referir em 3ª pessoa. Ansioso por natureza e palhaço por opção, foi votado como o mais comunicativo da 4ª série, ocasião em que falava merda no fundo da sala no intuito se autopromover. Pegou vício pela coisa e agora está aqui.
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