Ele, motorista de Uber. Ela, filha de dono de frota de táxi.
Conhecem-se na Roda do Chopp ao som de Safadão. Paixão platônica. Ele a gira e a saia florida avua. Sintonia. Empatia. Ficam xeide. Xero no cangote. Banheira no Bandéra.
Planos. Dúvidas. “E o meu pai?”. “Foda-se o seu pai!”. Redes Sociais. O balde voa longe.
Cumplicidade. Felicidade. A vida de mão dadas com o seu propósito.
O aplicativo chama. Uma corrida. Setor Comercial Sul. Madrugada. Ele desconfia. Não tem escolha. Precisa comprar o dourado. Isca do iminente noivado.
Tocaia. Canivete. Peixeira. Knifa. Cooperativa da música chiclete. Só pai de família. Tocador de tambor. Dizimista. E mais um. Terço tatuado no ombro. Salmo 23, versículo 4, no braço. 30 facadas. 81 facadas. Savana. Cerrado.
Choro de ambulância. O garimpeiro cara de caveira ainda vasculha a peneira. Os saltos altos de vozes graves se apressam. Todo mundo sai vuado. Até ele. Menos o corpo.
Telefone toca. Ela não acorda. Whatsapp apita. Duplo tique azul. Lágrimas. Revolta. Chave do carro. Visão inebriada. Alta velocidade. Árvore de luz.
Felizes. Em algum outro lugar.
(publicado em 27/10/2015. Estou colocando aqui de novo, pois foi o post que plantou na minha cabeça a ideia de fazer um blog.)